22 agosto, 2007

Tia ILDA


Ilda Almeida, com a mesma franqueza que nos abre a porta de sua casa, vai destapando do mais fundo da sua memória certezas que transformaram incertos os dias da sua vida. Não é dificil adivinharem-se-lhe no rosto as atribulações vividas nestes seus 83 anos de idade.

Órfã de pai aos cinco anos, foi morar aos doze, depois da morte de sua mãe, para a casa de uns tios. Aí, por caminhos diferentes dos que então percorrera, partilhando a vida com os tios pastores atrás do gado ou com a vasilha do leite à cabeça, havia de conhecer outras maneiras de enganar o sono.

A lida do campo, entre luas, preenchera-lhe todas as horas... Esqueceu-se de si, demasiadamente, a servir os outros ... E, sem tempo, viveu o tempo pelo lado mais escuro...
Não foi à escola. Não casou. Vive sozinha.
"Mas tem muitos amigos"...

Num envelope grande, guarda as fotografias mais recentes, e aquela, que os sobrinhos lhe tiraram e mandaram da França, onde aparece a ser beijada:

- «Aqui, pareço uma senhora!»

(Ranhados - Mêda) 17Agosto2007