16 outubro, 2007

O ferrador, a burra preta, o dono e a neta

Uma no cravo… outra na ferradura…

A pacatez asfixiante da tarde era recortada pelo bater compassado do martelo… e a cada pancada no cravo, a ferradura ia tomando encosto à pata do animal.
Afamado nas redondezas, Secundino Pinto, mestre ferrador, com a experiência que lhe era dada pelos 83 anos batidos ao ritmo do malho e ao som da bigorna, lá ia vencendo os safanões da burra preta... Ao ver-nos, com a graça sarcástica que lhe conhecíamos, não se poupou em dizer:
- “Ó amigo Pedro, com duas pernas há muitos… agora destes, ainda os há, mas cada vez menos...”
Quem não estava a gostar nada da brincadeira era o dono, Diniz Abrunhosa, que maldizia a sorte cada vez que a força dos seus 88 anos não aguentava a enérgica sacudidela da burra e largava a pata traseira que segurava. - “Raio parta a burra! … deve ser por causa da mosca! …”
Com artimanha elaborada pelo mestre, a neta, lá ia tentando dissuadir a burra da obstinada ideia de coicear, mas a tarefa não estava nada fácil.
(...)
Ocupámos o lugar do avô... e o serviço fez-se com segurança.

(Aveloso - Mêda) 29Agosto2007