25 março, 2014

a cumprir o destino...


No sossego da tarde, em Varge, cumpre-se o destino:
- Quem precisa é que anda... em Baçal, já não há barbeiros !...
No sorriso do mestre
Abel Almeida, adivinhamos o gosto de quem gosta de fazer o que faz... servir os amigos.

Varge - Bragança
Março 2014

24 outubro, 2013

A vida não cabe numa teoria



A vida... e a gente põe-se a pensar em quantas maravilhosas teorias os filósofos arquitectaram na severidade das bibliotecas, em quantos belos poemas os poetas rimaram na pobreza das mansardas, ou em quantos fechados dogmas os teólogos não entenderam na solidão das celas. Nisto, ou então na conta do sapateiro, na degradação moral do século, ou na triste pequenez de tudo, a começar por nós.
Mas a vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem.
Miguel Torga, in "Diário (1941)"

Sra Luísa
Corças - Trancoso (2013)

21 julho, 2013

Vida - caminho de sombras e luzes


A vida é um caminho de sombras e luzes.
O importante é que se saiba vitalizar as sombras e aproveitar a luz.

(Henri Bergson)

António Amado (90 anos)
Marialva - 21JUL2013

15 julho, 2013

Alegria


A alegria é a pedra filosofal que tudo converte em ouro.
(Benjamim Franklin)

Alverca da Beira
13 Julho 2013

05 julho, 2013

O tempo é feito de esperas

 

O tempo é feito de esperas
E eu sou a espera do que há-de vir.

Carrego os dias onde me gasto.
Embalo as noites que me atormentam.
Bebo o sol que me incendeia.

Por isso,
Nesta espera onde me encontro,
Sou a confluência do que findou.
(Carlos Pedro)

Trancoso
Mercado - 2013

15 maio, 2013

no teu olhar


Que a importância esteja no teu olhar, não naquilo que olhas.
(André Gide)

Aldeia Bela (Almeida
Maio 2013

11 maio, 2013

valho aquilo que quero


Os espíritos valem conforme aquilo que exigem. Eu valho aquilo que quero.
 

(Paul Valéry)


Aldeia Bela (Almeida)
Maio 2013

07 maio, 2013

olhar para a frente


A vida só pode ser compreendida, olhando-se para trás; mas só pode ser vivida, olhando-se para a frente.
(Soren Kierkergaard)

Aldeia Bela (Almeida)
Maio 2013

03 julho, 2012

nas grandes horas da Vida


"Nas duas grandes horas da Vida — a nascer e a morrer — o homem bebe sozinho o seu cálice. No trajecto entre os dois pólos, acobardado pela maior consciência da espessura da bruma, arregimenta amigos e companheiros. Mas a sua unidade é ele. Mesmo que consiga ter à volta a maior multidão — vai só."

Miguel Torga - Diário (1937)

Cidadelhe (Pinhel) 2007

15 maio, 2012

na sombra dos seus lutos



"Quando voltar (...) as cigarras já terão morrido. Quem lá encontraremos, pela certa, são aquelas mulheres envolvidas na sombra dos seus lutos, como se a terra lhes tivesse morrido e para todo o sempre se quedassem órfãs. (...) Com mãos friáveis teceram a rede dos nossos sonhos, alimentaram-nos com a luz coada pela obscuridade dos seus lenços. Às vezes encostam-se à cal dos muros a ver passar os dias, roendo uma côdea ou fazendo uns carapins para o último dos netos ..."
Eugéno de Andrade - "As Mães"
Senhora Helena - Tomadias (V.N.Foz Côa)
13 maio 2012

18 novembro, 2011

Solidão


Sabes,
já não sei o que é viver sem ti...
Já nem me lembro
(um dia que seja)
o que é não sentir a tua presença...
Não conheço outro tempo que não seja o teu...
E no entanto, solidão,
tão apetecida é a tua ausência em mim.
c.p. 


Ema Morais (Cabanas de Baixo) 2007
colocação póstuma

04 outubro, 2011

É Sempre à Noite...

É sempre à noite...
Quando o sossego das horas acaricia o sono...
Que a mão das lembranças vem colher
a vontade
no corpo que adormece. 
É sempre à noite...
Quando a ausência agasalha o luto...
Que a saudade recebe em dor
a maquia
do fadário produzido.  
É sempre à noite...
Quando a luz se torna necessária...
Que o cortinado dos dias enclausura
o negro
que no peito transparece. 

 c. p

03 junho, 2011

Silêncios


Os silêncios das tardes
são como os da alma
Profundos

No aconchego dos anos
ameaçam as noites
sufocantes
e agarram-se ao corpo
e à alma
e ao luto
      com raízes de memória

e com todos os agostos
passados na eira.
c. p. 

28 maio, 2011

O Inverno nos teus gestos


Amanhece o inverno
nos teus gestos.
O tempo
mede forças no teu corpo
e
sofridamente
os teus passos
têm a rua que é a mesma
mas com outra dimensão.

c. p.

02 abril, 2011

O Senhor Belchior

Dois dedos de conversa...




Em Geraldes, o sossego da tarde senta-se, rendido,
no lugar do Senhor Belchior. 

As estampas coladas na parede, guardiãs da alma,
decoram os dias. E guardam também o tempo
que obstinadamente se alapa em cada objecto.

Entre os trabalhos (e os alhos) dependurados,
aguça-se-nos o olhar no esmeril da curiosidade.
 E dois dedos de conversa bastam
para que o sorriso aconteça. 
Doce...

Quisemos tirar-lhe o retrato. Aceitou
com a mansidão dos que usam a gentileza como prática.


Geraldes (Peniche) - 2010 

16 fevereiro, 2011

Álvaro Albino

Confiança



O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que se não prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova... 
Miguel Torga

Longroiva (Mêda) - Fevereiro 2011

20 janeiro, 2011

Luis Ribeiro

Aqui diante de mim





Aqui diante de mim,
eu, pecador, me confesso
de ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
que vão ao leme da nau
nesta deriva em que vou.
...
Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
para dizer que sou eu
aqui, diante de mim!

(Miguel Torga)
Ranhados (Mêda)

14 maio, 2010

Ti Adriano Passeira

Em quantas partes se divide um mangual ?



Sabendo nós que os anos não perdoam, e que o seu peso, quase sempre, é proporcional à quantidade dos invernos passados, admirávamos no Ti Adriano a maneira fácil de caminhar, apesar dos seus 82 anos.
Homem sempre pronto a participar na aldeia em qualquer actividade, deliciava-nos com a sua simplicidade. Entusiastas, acostumámo-nos a conviver com a sua presença amiga.
Na lembrança ainda a corrida chocalheira num magusto em dia de S. Martinho!...
Hoje, e sabendo-o a recuperar, imobilizado, de uma queda sofrida no último sábado de Abril, queremos lembrar-lhe que esperamos para breve a sua recuperação, e que no próximo passeio pedestre das Mós lhe desculparemos se o avanço dado a todos nós não for da mesma qualidade dos anteriores.
O macho, testemunha e companheiro do acontecido nesse sábado trágico, vai poder agora descansar uns dias sem ir à propriedade. Enquanto nós, perante mais uma lição de vida, ficaremos à espera do "professor" para nos dizer: - Em quantas partes se divide um mangual?

(Mós - V. N. de Foz Côa) 2010

31 março, 2010

Cassiano Rebelo

Um retrato em dia de Santo Amaro

Embora fisicamente não nos parecesse estranha, não reconhecemos a personagem. Mesmo assim, permitimo-nos roubar-lhe o retrato.
Seria apenas mais um retrato. Um retrato a quem, dado o momento de oração, nem sequer lhe conseguimos perguntar o nome.
Um retrato em dia de Santo Amaro.


Um ano e oito meses depois, e porque a mansidão do olhar não deixava dúvida, reencontramos por acaso o homem do retrato.
Chegou acompanhado de uma vizinha que o ajudou a sentar-se no banco da praça.
- Era a noite da festa na Fontelonga, sua terra Natal.
Do extenso rol de contrariedades que a vizinha nos desvendou da vida deste homem, a última, ainda fresca, era a da morte do filho que tinha em França.
Depois de algumas voltas dadas pela arca velha da memória, por ironia do destino, havíamos de descobrir que também nós temos a nossa quota parte no rol dessas contrariedades, ao lembrarmo-nos que, anos antes, acidentalmente, à porta da taberna da D.ª Etelvina, e da única vez que um cão nos ficou debaixo da viatura, esse, era do Sr Cassiano. O animal estava deitado à frente de uma das rodas quando iniciávamos a marcha.
Só quem já passou por idêntica situação de perda, é capaz de compreender o estado de alma em que o dono fica. A sua reacção foi de compreensão pelo sucedido, no entanto lembra-nos ter ouvido dele estas palavras: " (...) Antes queria perder sei lá o quê!...".
Cassiano Rebelo, tem 87 anos. É viúvo. Ouve mal. Vive sozinho.

(Fontelonga - Mêda) 2009

24 outubro, 2009

Maria Cândida



Também para ela, o silêncio, vestido de negro, é a companhia dos dias depois da morte do marido. Tem nos vizinhos a família escolhida, e é nessa boa vontade que descobre forças para viver.
Com oitenta anos, Maria Cândida, ainda bebe o seu copinho. São pequenos prazeres onde o cansaço das horas encontra refúgio e se transfigura numa forma muito mais doce. Num corpo de menina, num olhar inquieto, o tempo parece ter encontrado repouso.
Contam-nos que - ainda hoje - se motivos houvesse para bailar, não regatearia ao corpo a oportunidade esforçada de dar um gostinho ao pé.
Uma coisa a preocupa: “Que o filho que está na Suíça (e que vem à terra por alturas do Verão) arranje companhia, se arrume. Aí, já podia morrer descansada”.

(Paipenela - Mêda) 03Outubro2009